"A Vida Secreta das Palavras" (Isabel Coixet, Espanha, 2005) é um filme sobre o desamparo humano quando a comunicação não é possível, ou se faz de forma precária. Pouco é dito, pouco acontece, mas ensaia-se um caminho para a redenção. O que pode a linguagem? O que as pessoas efetivamente dizem umas às outras, pergunta-se Clarice Lispector em uma de suas crônicas. Paradoxalmente, quando pouco pode ser dito é que parece acontecer o encontro, atravessando a angústia do silêncio que isola. Alguma coisa de humano subsiste para que o encontro propiciado pelas palavras possa acontecer. Não se pode pensar esse encontro fora da dimensão do humano (ou humana). Mas então o homem de fato existe? Seria ele algo mais que aquilo que a linguagem lhe faculta? Ou o humano é dado pelos limites da linguagem, pelo que a linguagem faz dele? O que é o humano? Quando nos encontramos de fato com o outro? O filme parece sugerir que até da mais funda incomunicabilidade a vida pode surpreender, e o humano palpitar, acontecer... Seria assim um despertar da linguagem, sugerido pela imagem do segredo, ou vida secreta, das palavras... Segue o trailer.
sábado, 10 de julho de 2010
sexta-feira, 9 de julho de 2010
terça-feira, 6 de julho de 2010
Manoel de Barros
"Um girassol se apropriou de Deus: foi em Van Gogh."
(Manoel de Barros, O livro das ignorãças. Rio de Janeiro: Best Seller, 2008, p. 15)
domingo, 4 de julho de 2010
"O Crocodilo" - Nanni Moretti
Como em qualquer bom filme italiano, ninguém se entende, mas dá-se boas risadas... e de mais a mais, eles conseguiram reeleger o Berlusconi, então é mesmo a história de falar de corda em casa de enforcado. Surpreendente, refinado, irônico, político. Segue uma ótima crítica.
"Bianca" (cena da praia)
Trata-se de um psicopata, sem dúvida, ou de um melancólico, quem sabe. A íntegra do filme só vai confirmar isso. Um filme ótimo, com um humor refinado, típico do Moretti, uma das boas surpresas das mostras a que assistia no Palácio da Artes, em BH. E é o próprio Moretti que faz o psicopata, digo, o protagonista. A seu modo, um filme político.
Flor do deserto
"Flor do Deserto" (trailer) é uma excelente oportunidade perdida de fazer bom cinema a partir de uma história dramática, potencialmente trágica conforme o ponto de vista. O filme segue o esquema básico de tentar agradar o público, subestimando-o mais uma vez, pois a história da modelo Waris Dirie poderia render uma adaptação cinematográfica bem melhor. Nada se destaca, a não ser a beleza da atriz que interpreta a modelo. O roteiro não convence, é apenas um apanhado de cenas, não há densidade dramática nas atuações. O tema central do filme, a mutilação genital das mulheres, uma prática culturalmente associada à religião muçulmana, não necessariamente uma prática vinculada a esta religião (veja aqui informações fornecidas pela Wikipédia), acaba ocupando uma posição secundária em boa parte do filme, que se perde em cenas por vezes patéticas e infantis. Apenas no final o tema vem à tona em toda a sua força dramática. O que poderia suscitar uma discussão acerca dos limites da aceitação das diferenças culturais, no que tange à universalidade dos Direitos Humanos, acaba se perdendo em meio a situações prosaicas e secundárias. É a beleza da moça que, em Londres, salva-a de uma deportação e abre-lhe muitas portas, mas antes disso o que efetivamente a salvou - de um destino ainda pior - foi a sua coragem e obstinação, ao fugir sozinha e sem recursos da tribo onde vivia. Isso fica em segundo plano no filme.


