Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sábado, 12 de fevereiro de 2011

De volta ao quarto 666 (entrevista com Wim Wenders)


A proposta reinveste sobre o que Wim Wenders fez em Quarto 666, tomando-o como entrevistado sobre o futuro do cinema. Mas se então o debate girava em torno do cinema e a emergência de novas mídias, como a televisão e o VHS, a possibilidade de assistir o filme em casa, o que conferia uma tônica de pessimismo às falas dos entrevistadoss, conforme o próprio Wenders pontua, sua posição, cerca de 20 anos depois, é otimista em relação ao cinema, otimista demais talvez, e o alvo que ele tem em mira é bastante problemático: "...as pessoas precisam do cinema, precisam desse instrumento, mais do que qualquer coisa. Todos nós sabemos que a 'palavra', a 'palavra falada' ou a 'palavra escrita', pertencem à cultura do passado. E que o futuro de nossa cultura é a 'imagem'. E este futuro recém começou." Há muito que se anuncia o fim do conhecimento centrado na palavra. A conclusão da entrevista é decepcionante, vinda de um cineasta como Wim Wenders, cujo brilhantismo da obra dispensaria esse triste papel de advogar em causa própria. 

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