Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quarta-feira, 9 de março de 2011

a pedra e o beco

Drummond viu a pedra, Bandeira viu o beco, pedra abrindo caminho no beco. Gastar com palavras a pedra (água mole em), vencendo a umidade do beco. No berço da pedra, a perda. No desejo da pedra, o beco. Pedra afundando no beco, beco fundo onde a pedra perde sua aspereza. Beco em que a pedra encontra seu caminho, abrindo passagem ao ser. A pedra suavizando o beco, o beco esculpindo a pedra, abrindo as comportas do viver.

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