Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sábado, 28 de maio de 2011

nuvens

Para os momentos de grandes ou pequenas angústias: poesia. Porque o movimento é contínuo dentro da angústia, esfacela, desintegra. E o que seria insignificante de repente salta ao olhar e exige atenção, enquanto de insignificância em insignificância caminha-se léguas na errância. O que é de fato importante? A importância das coisas é dada pelo olhar que as enxerga: enxergá-las é já admitir sua importância, mesmo quando aparentemente elas se fizeram ver por si mesmas. A minúcia do olhar pode obliterar a largueza da percepção. Quando o céu está nublado, não é possível ver as estrelas. A poesia é um modo de enxergar através das nuvens.

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