Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sexta-feira, 20 de maio de 2011

percepção

Sou professora... e escrevo. Não é o mesmo que ser escritora, que soa como profissão. A profissão veio em forma substantivada, enquanto escrever envolve uma ação diferente, que tem um fim em si mesma. Escrever é uma demanda, nunca cansa, enquanto o ofício está ligado à sobrevivência, embora exercido com apreço no caso de condições favoráveis. Escrever tornou-se uma necessidade imperiosa, e a cada volta da escrita descubro o impossível que ficaria obnubilado se palavras não fossem trazidas a lume, movidas pela necessidade de acessar o impossível. Poderia dizer que minha relação com as palavras é quase tátil se isso não fosse uma expressão esvaziada de tanto já ter sido dita. Como falar então deste quase tocar a palavra, dessa relação íntima que se renova a cada dia? Sinto-as, as palavras, nos dedos, enquanto estou escrevendo, e sei que nelas está uma parte do que busco. A outra, não sei... ainda. A novidade de cada dia é o modo com que a rede vai se armando. A propósito, esta semana Drummond fez-me a gentileza de confirmar o que já intuía, no sentido de unir pontas aparentemente desconexas: "No elevador penso na roça / na roça penso no elevador." ("Explicação")

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