Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quinta-feira, 8 de setembro de 2011

11 de setembro

Há 10 anos atrás eu estava tão, mas tão em outro lugar, que me surpreende, agora o percebo, como minha minúscula vida pode ter mudado tanto, e tantas vezes, numa década ― e uma década é uma boa baliza para avaliar transformações ― enquanto uma nação poderosa parece não querer deixar o mundo esquecer suas cicatrizes. Eu também sou teimosa, não esqueço fácil as minhas cicatrizes, mas o mundo não tem nada que ver com elas, a não ser supondo a relação pouco palpável dos sistemas complexos. Que tenho eu então com o 11 de setembro? O macro e o micro se fundem numa estranha geografia íntima: o acontecimento 11 de setembro não me deixou esquecer o que estava fazendo naquele dia, ou o contraste entre tudo tornou mais evidente (e importante) minha alegria particular. Estava alegre, lembro-me perfeitamente, muito alegre, daquelas coisas gratuitas sem muita explicação. Hoje? Hoje eu escrevo o que não consigo sondar. E espero que uma hora, também sem razão aparente, a alegria, não sei se aquela, mas enfim alguma forma de alegria, volte. 

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