Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sábado, 22 de outubro de 2011

obedecer desobedecer

Você obedece, instintivamente obedece, até que um dia não concorda, aprende a não concordar, desobedece, arca com a desobediência até não poder mais, volta a obedecer com a sensação de ser um desobediente rendido, obediente tendo latente em si a desobediência, experimenta de novo a desobediência, sente frio, sente dor, percebe que os limites testam o próprio corpo, a alma é agreste mas o corpo é civil, deseja então um outro corpo, um corpo apto para a desobediência, mas percebe que ce n’est pas possible, é com esse pobre e frágil corpo que terá que se haver, sabendo que as duas coisas, obediência e desobediência, têm endereço certo no corpo, pois que precisam dele para sustentar seu movimento. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário