Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 1 de janeiro de 2012

viver

Viver podia ser uma coisa mais realista ― uma sensação que me veio depois de ler os contos de Clarice Lispector escritos para crianças ― A vida íntima de Laura, A mulher que matou os peixes, Quase de verdade, O mistério do coelho pensante. “Você sabe que Deus gosta de galinha? E sabe como é que eu sei que Ele gosta? É o seguinte: se Ele não gostasse de galinha, Ele simplesmente não fazia galinha no mundo. Deus gosta de você também senão ele não fazia você. Mas por que fez ratos? Não sei.” (Clarice Lispector. O mistério do coelho pensante e outros contos. Rio de Janeiro: Rocco Jovens Leitores, 2010, p.14)

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