Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


segunda-feira, 1 de outubro de 2012

a ficção do se

Tudo aquilo que não se vive, que alguém não vive, comporá outra vida? Como seria essa vida paralela, essa outra vida a que não cedo meu corpo? Não existe. O “se” é uma ficção. E se... Não é possível: então não existe. A ilusão consiste em vislumbrar uma espécie de universo paralelo, enquanto cria-se outra ilusão, da vida adiada. O que existe, mesmo, são estas palavras, em que a vida em mim vive. Uma pena eu não ter recursos para dizer isso com mais fidelidade ao que sinto.

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