Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sábado, 5 de abril de 2014

Milguel Marvilla

INSTANTE

Estamos ressurgindo.
Estou aberto e pleno neste instante irrepetível.
O mundo acontece, estou vivo,
preparo minha permanência:
repito meu papel mil vezes diante do espelho.
Acompanho a linha que meus olhos produzem à cata
de uma estrela há muito morta
e sei que sou, de novo, real.

Este brilho em teu olhar, no entanto, instaura a dúvida:
um de nós é sonho. Mas qual?

Miguel Marvilla. Lição de labirinto. Vitória: Fundação Ceciliano Abel de Almeida, 1989, p.87.

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