quinta-feira, 6 de maio de 2010

epifania

Epifania é o nome de algo difícil de definir, mas que se experimenta de vez em quando. Acontece uma espécie de suspensão temporária do contexto circundante, e a pessoa se vê, de repente, diante de uma sensação diferente, estranha, que pode acalmar ou não, mas que, certamente, aponta novos rumos, mesmo quando traz inquietações ― e é bom que as traga, pois provoca uma espécie de tectônica de placas (na falta de imagem melhor), e as coisas, os sentimentos, as impressões, o próprio saber sofrem uma reacomodação, o que não deixa de ser um apaziguamento. É um reencontro com o próprio ― e misterioso, porque imponderável ― ritmo da vida. A arte costuma ser um elemento deflagrador, mas também uma chuva mansa ao anoitecer, que de repente isola a pessoa em algum lugar qualquer, calmo, e de si mesma. Estar sozinho diante da imensidão do mar, em praia vazia, costuma trazer sensações inexplicáveis. O que disse Fernando Pessoa, num versinho: "Já viram Deus as minhas sensações..." 

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