sábado, 11 de setembro de 2010

Jorge de Lima: Invenção de Orfeu

[Canto X, Missão e Promissão, X]

Não a vaga palavra, corrutela
vã, corrompida folha degradada,
de raiz deformada, abaixo dela,
e de vermes, além, sobre a ramada;

mas, a que é a própria flor arrebatada
pela fúria dos ventos: mas aquela
cujo pólen procura a chama iriada,
― flor de fogo a queimar-se como vela:

mas aquela dos sopros afligida,
mas ardente, mas lava, mas inferno,
mas céu, mas sempre extremos. Esta sim,

esta é que é a flor das flores mais ardida,
esta veio do início para o eterno,
para a árvore da vida que há em mim.

LIMA, Jorge de. Invenção de Orfeu. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d, p. 194. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário