segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Manuel Bandeira

versão do poema conforme publicado no terceiro e
último número da revista
Estética (abr./jun. 1925, p.256)

O cacto

Aquele cacto lembrava os gestos desesperados da estatuária:
Laocoonte constrangido pelas serpentes,
Ugolino e os filhos esfaimados.
Evocava também o seco Nordeste, carnaubais, caatingas...
Era enorme, mesmo para esta terra de feracidades excepcionais.

Um dia um tufão furibundo abateu-o pela raiz.
O cacto tombou atravessado na rua,
Quebrou os beirais do casario fronteiro,
Impediu o trânsito de bondes, automóveis, carroças,
 
Arrebentou os cabos elétricos e durante vinte e quatro horas privou
                                      [a cidade de iluminação e energia:

― Era belo, áspero, intratável.
 Petrópolis, 1925

BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. 20. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993, p.127-128. 

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