quinta-feira, 14 de outubro de 2010

anjos (escrevendo no embalo de Wim Wenders)

... termino de assistir "Asas do Desejo" e vou dormir, mas não sonho com o anjo ― sonho, confusamente, com a escrita do texto sobre o anjo, o sonho com o anjo. É com a escrita, neste espaço confuso que rasguei para mim num dia de distraída decisão, que sonho. No sonho, vislumbro alguns anjos, que assumem a face de alunos ― mas não era para ser o contrário, eu a aluna? Sim, é isso, sou eu a aluna  e é por isso que eles, os alunos, aparecem ― tentando entender um texto que desconcerta. Mas também são os meus alunos, naquilo que vislumbro de inocência neles. O sonho é confuso, o texto é fragmentário, não há redenção, exceto na tentativa de escrever. Cada diálogo desse filme é como se fosse a página de um livro em processo de escrita, um livro que se medita, um livro de muitas vozes, que falam para si mesmas, para a solidão. Talvez que o anjo não exista, e tudo não tenha passado de um sonho para a bela Marion. Mas talvez sim, eles existam. Preciso ler Rainer Maria Rilke. Às vezes me espanto da coragem que tenho de sentar diante da tela e escrever, esquecendo-me (ainda bem) que não falo só pra mim.

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