quinta-feira, 7 de outubro de 2010

linhas/entrelinhas

Há um trecho famoso de Clarice Lispector, acerca da escrita: "Então escrever é o modo de quem tem a palavra como isca: a palavra pescando o que não é palavra. Quando essa não-palavra ― a entrelinha ― morde a isca, alguma coisa se escreveu. Uma vez que se pescou a entrelinha, poder-se-ia com alívio jogar a palavra fora. Mas aí cessa a analogia: a não-palavra, ao morder a isca, incorporou-a. O que salva então é escrever distraidamente." (A descoberta do mundo, p.385). Distraidamente, certas coisas, em seu falar silencioso, elidem a palavra e deixam entrever novas trilhas no viver. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário