Estrelado pela bela Audrey Tautou, O Fabuloso Destino de Amélie Poulain tem, como apregoava aquela velha e boa propaganda, mil e uma utilidades: trata-se de um filme em que o espectador pode encontrar a fantasia que quiser. Em geral ele encontrará apenas as próprias, o que não deixa de reduzir o espectro do filme, amplo, como se disse. O filme tem como cenário o famoso bairro boêmio de Montmartre ― que rendeu o fraco musical Moulain Rouge, por exemplo, filme que entretanto traduziu com acuidade o que foi aquele ambiente, onde Amélie vive e trabalha, em local e funções bem distintas da infeliz protagonista do musical. Amélie é garçonete num café situado em Montmartre, e mora num prédio simples nas imediações: trata-se de uma visão de subúrbio, mas um subúrbio com requinte. Isso já dá uma boa ideia do filme, e muito de sua bizarrice pode ser entendida na intenção de trazer um outro Montmartre, uma outra Paris, onde o sonho se faz ao encontro do insólito, do inusitado. Como foi dito, o leque do filme é amplo, muitas são as entradas para o espectador. A minha foi: Amélie é alguém que fez da solidão da infância um passaporte delicado para um acesso ao mundo via detalhe, aquilo que quase ninguém vê. Ao se permitir o contato com o anonimato de outras solidões (e são muitas ao longo do filme), ela acaba encontrando o que pode doar de si ao outro. Bonito. E difícil. Gosto especialmente, além da figura de Amélie, do escritor fracassado que frequenta o café: nada mais francês que um escritor fracassado.
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