De repente, bateu-me um cansaço das pessoas, do ser humano. Há humanidades demais por aí, e seu adocicado viscoso forma uma espécie de liga que vai agrilhoando as pessoas umas às outras. O ser humano e seus terríveis carinhos: amor que vira ódio, amizade que vira tédio... O ser humano e sua incapacidade de viver consigo mesmo. O ser humano... Lembro-me, a propósito, de um trecho de Nietzsche, lido em Raízes do Brasil: "O vosso mau amor por vós próprios converte a vossa solidão num cativeiro." Sérgio Buarque cita a passagem acerca do polêmico "homem cordial": "No 'homem cordial', a vida em sociedade é, de certo modo, uma verdadeira libertação do pavor que ele sente em viver consigo mesmo, em apoiar-se sobre si próprio em todas as circunstâncias da existência. Sua maneira de expansão para com os outros reduz o indivíduo, cada vez mais, à parcela social, periférica, que no brasileiro ― como bom americano ― tende a ser a que mais importa. Ela é antes um viver nos outros." (Raízes do Brasil, 26.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p.147.) Esse "viver nos outros" já encontrou várias exegeses, sem dúvida interessantes e pertinentes, dispersas nas diferentes publicações dedicadas ao autor. A minha é simples: o aprendizado da solidão é tão importante quanto respirar, e inclusive ajuda a melhorar a respiração.
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