sábado, 5 de fevereiro de 2011

Bob Dylan: Positively 4th Street (by Bryan Ferry)


A quarta rua terá esquinas? Ou será a quarta pessoa do singular, se, trocados hipoteticamente os papéis  entre o "eu" e o "tu", fosse possível ver que a terceira pessoa não existe? E trocados esses papeis, o "eu" e o "tu" talvez estranhassem tanto o que vissem, que nunca mais tivessem certeza de sua identidade, embora continuassem refugando o tu, ao se referirem a ele (ao tu) quando estivessem com um outro eu, que, quando o eu e tu estão juntos, é ele/ela. "Yes, I wish that for just one time / You could stand inside my shoes / You'd know what a drag it is / To see you". Não precisa ser tão brutal, sertão brutal. Se, como quer a Clarice Lispector em “Ovo e a galinha”, "eu é apenas uma das palavras que se desenham enquanto se atende o telefone, mera tentativa de buscar forma mais adequada”, então o tu, do outro lado, é pura ficção, e o ele/ela de que eventualmente este eu e tu se ocupem não passa de uma projeção. Então está perdida a chance de separar o bem e o mal? Não, porque, mal ou bem, ainda se reconhece a barbárie. Se isso falhar, há sempre um modo de recorrer à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, onde a terceira pessoa está bem caracterizada e defendida. Mas eu (de novo a odiosa palavrinha) prefiro minha privacidade, minha intuição, que às vezes, por força de me fazer entender, chamo de meu anjo da guarda. Quantas vezes o eu apareceu neste breve enunciado? Cinco vezes. É difícil sair do eu, mas há em toda parte, na arte, ocasião de relativizá-lo. 

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