quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A lua vem da Ásia (CCBB, com Chico Diaz)

[imagem obtida aqui]

A lua vem da Ásia, adaptação para o teatro do romance de Campos de Carvalho, é puro delírio verbal. Chico Diaz sustenta com força, perícia e precisão um monólogo de quase 90 minutos, e o que se vê não cabe no escaninho da lógica. Como tal, fica difícil falar da peça, embora alguns consigam (aqui). Não há bússola, a linguagem não comporta a riqueza e a intensidade do que é vivido, a liberdade é um clamor constante, a escrita uma possibilidade, e incomoda bastante perceber, como o avesso de uma fotografia, o mundo-nosso-de-cada-dia na ilogicidade(?) do que desfila ao longo da peça. Uma das poucas falas de que consigo me recordar: revelar ao mundo minha desesperada inocência. Ou: uma lágrima furtiva. Ou: nossa grande insignificância diante do universo. O inferno é aqui mesmo, mas é possível dar boas risadas diante de seu absurdo, principalmente quando este absurdo começa estranhamente a se impor como rotina. Ao sair do teatro, olhei para o céu casualmente e vi uma enorme lua (asiática, por força da peça). Caminhei mais um pouco e vi o que vejo todo dia, incorporado à rotina de uma cidade que compensa seu inferno oferecendo teatro de qualidade a preços populares no CCBB. A peça vale o inferno porque o encena, colocando em cena a perplexidade de um ser errante diante de um mundo que os deseja, os seres, adaptados, enquadrados, assimilados, rotinizados. E há, vivendo nas calçadas, iluminados pela mesma lua, seres pelos quais o teatro não pode fazer nada. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário