Pelos caminhos da linguagem vou traçando estradas que me são
necessárias. As recordações da infância, frequentes nos últimos tempos,
convocam-me a uma fidelidade com quem outrora fui, antes de me duvidar. Só
escrevendo isso consigo saber. Quando foi que comecei a duvidar de mim? Dúvida
retrospectiva, aliás, lançando sombras na criança que corria ao sol.
Impossível. As estradas daquela criança levaram a uma moça desajeitada,
desconjuntada, e essa moça se duvidou, duvidou. Mas o melhor dessa moça é
aquela criança que fui, que ela foi, que tinha sonhos bem ousados para seu meio
tacanho. Confesso que esses sonhos ainda não se concretizaram de todo, apesar
de sua aparente simplicidade. Tão simples que constrange mesmo falar, e para o
bem deles talvez seja melhor continuarem um segredo entre eu e minha analista.
Era isso: eu queria aparentemente pouco, mas depois descobri que esse pouco
tinha algo de luxo, o luxo da liberdade de viver.
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