segunda-feira, 20 de junho de 2011

m a d r u g a d a

Adentro madrugada corrigindo redação, e de repente noto na rua o silêncio. Então fui discernindo ao longe, aos poucos, uma voz conhecida, a voz de Roberto Carlos, infalível para uma noite de domingo já expirada, madrugada espreitando no relógio. Era um Roberto Carlos assim triste, distante, aquele que tocava nos longes dos 70, e não adianta que serei incapaz de lembrar qual era mesmo a música. Mas como todas as músicas de Roberto Carlos parecem ser mesmo uma mesma música tocando ao longo do tempo, com indiscutível queda da já escassa qualidade, eu vou me permitir um momento assim ultra brega, ou ultra qualquer coisa que caiba numa madrugada fria em que uma voz familiar, cortando o silêncio da noite e distraindo do trabalho, traz mais do que se podia prever ou imaginar (é sempre assim...), com repercussões inaudíveis, exceto pelo que consigo dizer a mim mesma. Porque a distância já se faz muita, intransponível, e se hoje tenho madrugadas de trabalho, minha vida já teve manhãs de infância, a salvo numa distância em que mantenho intacta, Deus sabe a que custo, a menina que fui. Precisei crescer para descobrir que gostava dela, apesar de desengonçada e um tanto distraída. De forma que esta música, como diziam os locutores de rádio, vai para ela (e há camadas e camadas de segredos entre nós, entre os nós que a vida foi providenciando), a menina que fui, e que teimo em não deixar para trás. Roberto Carlos é brega? Depende do sentido que cada um empresta à palavra amor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário