Bem, já que me parece bem difícil ficar sem escrever, devo dizer que hoje passei pela Avenida Copacabana, já sabendo, antes mesmo de chegar à avenida, que passos ilustres palmilharam-na com amor áspero, e deixaram disso um registro memorável. Mas cheguei, e era quase nada, quase uma avenida como outra qualquer, não fosse eu uma criatura que lê o mundo também pelas lentes de quem o leu antes de mim. Como diria a mesma ilustre passante, jamais seria possível caminhar inocentemente por esta avenida depois que alguém a percorreu em tão alta voltagem. No ir e vir, enquanto buscava o endereço do médico, dei-me conta do noticiário recente, e ri sem maldade ao me ver esquivando-me dos bueiros (e eram muitos, e percebi em outras pessoas movimento similar), enquanto, no mesmo átimo, percebia que não era possível mesmo a distração, não aquela distração da ilustre passante, mas a minha mesmo, distração de quem tinha inclusive quase esquecido a história, a outra, do rato, não a atual, dos bueiros, embora estranha contiguidade as perpassasse e embora eu considere façanha impossível passar na Avenida Copacabana e não me lembrar de Clarice Lispector.
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