Quando eu encontrei este verso, mar à vista da ilha, intui que tinha em mãos algo cujo alcance me escapava, mas que era melhor não subestimar ― o mar como tudo aquilo que não sou, o oceano da não-identidade batendo nos costados da ilha-subjetividade, tudo mediado pelo forte sentido da visão. Sim, eu li os românticos, mais os teóricos que os poetas. Nada se firmou mais em meu horizonte que a noção de ironia romântica, o movimento entre o eu e o não-eu, o sujeito e o objeto. Uma ilha ainda é uma ilha, mas se tem o mar à vista, o mar por horizonte, então este mar só pode ser o não-eu apreendido na aspereza da leitura de Fichte, Schlegel e Walter Benjamin. Eu não sei o que fazer com tanto mar para navegar, sem abdicar da palavra “eu”. E há, no plano das ressonâncias profundas, um movimento que se fez sem eu me dar conta. Quando comecei a estudar o Romantismo encontrava-me ainda no mestrado. Hoje, enquanto pensava no blog perambulando pela rua ― algo que muito frequentemente acontece ― veio-me a súbita intuição de que a escolha do verso “mar à vista da ilha” abrigava, numa expressão feliz, a teoria romântica do conhecimento que estudei, e que preconizava a arte como a efetivação da manifestação da infinitude subjetiva na concretude da expressão. Como se o sujeito dissesse: tenho um mar em mim, mas como é custoso navegá-lo!
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