segunda-feira, 31 de outubro de 2011

chuva

E então chove e faz frio ― o que percebo deveras. Costuma ser assim nas proximidades do feriado de finados. Não à toa o finado Brás Cubas fez chover no seu enterro. Há exato um ano atrás tanta coisa se deu, tanto mudou de repente, inesperadamente. Um aluno hoje me perguntou a pertinência de um dia dedicado aos mortos. Disse-lhe que valia mais para nós, para nos lembrar de nossa condição. A conjunção da chuva com Brás Cubas e a véspera do feriado avivou a lembrança de coisas já distantes, insignificantes ― e é um alívio percebê-las assim, despidas de importância, como naquele conto de Drummond cujo título agora me escapa. Aliás, hoje é Dia D, dia dele, de Drummond. Lembrar é apenas um acidente da memória, um modo de perceber que, como o avião que corta agora o céu acima das nuvens, passou o tempo, e junto o que ele engendrou. O tempo pairando acima das nuvens, lenitivo da alma que mandou uma chuva para eu me lembrar de tanta coisa, lembrar que as coisas mudam de lugar, como a água da chuva que cai. 

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