Ainda no território dos sonhos, num deles eu me via, nitidamente, passando de ônibus em frente ao local onde houve a explosão do restaurante, na Praça Tiradentes. É quase certo que, no intrincado de ruas que é o centro do Rio de Janeiro, eu já tenha passado por lá, certamente a pé, procurando alguma loja ou quem sabe mesmo apenas passando. Eu passava, no sonho, de ônibus ― pois que no dia do acidente eu me dirigia de ônibus para o Centro e ouvia as conversas a respeito, um dos relatos particularmente inusitado ― e olhava o local, subitamente reconhecido a partir das imagens da mídia e de um imaginário difuso, com uma familiaridade incômoda, um reconhecimento súbito do desastre já acontecido, e que portanto não mais me ameaçava, aquele desastre, é bom frisar, que no entanto custou a vida de quatro pessoas que não sabiam que, naquele dia, não era para passar ou estar ali ―, mas ao mesmo tempo passando em frente ao local do crime, protegida pelo ônibus. E essa proteção remete ao estranho relato que escutei aquele dia no ônibus, e às coisas que me aconteciam naquele dia enquanto me dirigia à zona sul para mais uma sessão de análise. Há nisso tudo intrincadas questões de geografia, não a aprendida na escola.
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