quarta-feira, 12 de outubro de 2011

linhas da mão

A relativa facilidade com que se recorre a noções como intuição, acaso, destino e coincidência, a tentativa de manipulá-las no sentido de projetar enredos, não ilude o próprio destino e seus poderosos fios. O conto de Cortázar foi mais do que um achado. Fez-me perceber, por conexões bastante sutis, não apenas as delicadas linhas de minha mão, enquanto abria e fechava o livro, mas o intricado que se move por elas, as mãos. Mas é claro que não se trata apenas disso. Trata-se de perceber algo maior, percepção que não depende da vontade: depende às vezes de um acaso, o acaso das linhas de um livro, por exemplo. Então o discurso fácil cede a outras possibilidades: as mãos rumam em direções que, num relance, fazem perceber uma parte, ainda que ínfima, dos fios que tecem o enredo (ou enredos) de uma vida, fios que estão e não estão nas mãos. O que está nas mãos são as linhas que dela partem, as linhas do texto que as mãos vão compondo, via palavras, itinerários que se confundem com as linhas, e que tentam delinear, apreender, alcançar, lograr entender, capturar qual teia os fios sutis e a custo discerníveis que movem a vida, uma vida, qualquer vida.

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