sexta-feira, 21 de outubro de 2011

mais um ditador

O progresso do capitalismo é de fato notável, e não há qualquer contradição nisso, afinal o progresso é a tônica que move este vitorioso sistema político e econômico: sem a noção de progresso e de tempo linear, cristã em princípio, o capitalismo não teria encontrado chão onde semear suas flores de aço. Como tal, não se pode esperar delas o mesmo papel reservado às flores na morte tradicionalmente vivenciada. O mais estranho em tudo continua sendo a confusão das versões, a eliminação, junto com o inimigo, de seu corpo, o sequestro dessa morte, que se entrevê, nas frinchas dos relatos, como tendo sido extremamente violenta, insuportavelmente violenta para quem dela participou ou vivenciou. Então é preciso explodir em felicidade, em comemoração ao novo ritual do morto sem corpo, explodido com a violência. O corpo desaparece, e o mais perverso de tudo é que o corpo sequestrado do ritual das antigas flores não permite que o ciclo se encerre: as flores de aço compareceram de tal forma na morte violenta que o horror de tudo esgarça de vez a possibilidade do ritual. Ou quem deixaria de ficar chocado com a imagem do ditador abatido flagrada por um celular? Quem sabe o tempo do progresso também traía uma circularidade ― ao contrário da tão propalada linearidade ― e estejamos vivendo uma coisa nova, uma retomada de etapas consideradas já superadas, em que a nova ritualização da morte não difere da barbárie, embora seja difícil aceitar isso, assim como aceitar que isso não vale só para ditadores, afinal as explicações dadas são as mesmíssimas para outras mortes que envolvem confrontos políticos violentos por territórios, vale dizer, por poder.

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