Das imagens desta noite ficou-me mais viva a última (as outras já se perdendo naquela névoa que sobra dos sonhos), eu fazendo uma estranha salada, sem intenção inicial de fazê-la, pois que apenas misturava ingredientes pouco ortodoxos ao conceito de salada que tinham restado próximo a mim, enquanto as outras pessoas saíam para fazer coisas que julgava bem mais interessantes, tanto que me tomava a frustração de não poder ir também. No entreato dos atos fiquei e mexia aquela mistura com cara de nada, nonsense, até que percebi tratar-se de uma salada, ainda que com componentes exóticos e um aspecto de incompletude ― é que quando percebi o que se passava comecei a me empenhar para que aquilo ganhasse a forma que reconhecia, e é claro que as palavras com que dou contorno às imagens do fragmento do sonho são já outra camada dos ingredientes (fragmentos) que misturava, percebendo-lhes uma liga (aliás eles ofereciam mesmo alguma resistência ao movimento), ao mesmo tempo em que a palavra salada é só uma concessão ao que se passava. Assim como a palavra abacate ou lentilha. Com as sobras de vários sonhos dentro do sonho eu estava a fazer uma salada.
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