domingo, 30 de outubro de 2011

Óssip Mandelstam

A CONCHA

Talvez te seja inútil minha vida,
Noite; fora do golfo universal,
Como concha sem pérola, perdida,
Me arremessaste no teu areal.

Move as ondas, como indiferente,
E cantas sem cessar sua melodia.
Mas hás de amar um dia, finalmente,
A mentira da concha sem valia.

Jazerás a seu lado pela areia
E pouco faltará para que a escondas
Nessa casula onde ela se encadeia
À sonora campânula das ondas,

E as paredes da frágil concha, pouco
A pouco, se encherão do eco da espuma,
Tal como a casa de um coração oco,
Cheio de vento, de chuva e de bruma...

CAMPOS, Augusto de. Poesia da recusa. São Paulo: Perspectiva, 2006, p.115.

Nenhum comentário:

Postar um comentário