Colocaram sob a porta um anúncio anotado a mão em pedaço de folha de caderno: "Vendo presépios" (seguido de um número de telefone). Os problemas se avolumam, o dinheiro entre eles, e eis que a fantasia do Natal, antes mesmo de entrar novembro, já está à venda. Se em vez de “Vendo presépios” viesse “Vendo Natal” talvez eu ficasse inclinada a ponderar ― afinal há Natal sem presépio, sem árvore, há Natal sem ceia. Pelo menos soaria menos vulgar, se é que há como escapar à vulgaridade quando há dinheiro envolvido, assumido no verbo vender. Os meus melhores Natais aconteceram quando eu pude me esquecer de que era Natal e me abster de seus apetrechos. Mas isso parece impossível e impensável quando, faltando ainda dois meses para a data, vêm anonimamente insinuar-se sob a porta, silenciosamente, num anúncio prévio da enxurrada bate-estaca que não deixará em paz até que amanheça 26 de dezembro e se possa dizer: Pronto, ufa! Acabou! Enquanto isso, já amassado o anúncio e remetido ao lixo, penso nas vantagens do vinho como emoliente da alma. As coisas realmente boas não precisam de propaganda.
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