quinta-feira, 17 de novembro de 2011

trapos da memória

A última notícia que recebo é que os proprietários não vão mais vender o imóvel ― antes havia chegado aos meus ouvidos que iriam vendê-lo no prazo de dois anos ―, de forma que, salvo um aumento exorbitante do aluguel, poderei ficar aqui por prazo indeterminado, ou pelo menos até que nova configuração se desenhe. Ao assistir o curta de animação que acabei de postar, vieram-me de súbito as imagens desta noite, mais precisamente a presença do inusitado animal me fazendo lembrar das baratas ― tenho-lhes verdadeiro horror, são o único animal que de fato detesto. E então é assim: estou indo, acompanhada de algumas pessoas da minha família, dentre elas meu pai, olhar o novo imóvel em que vou morar, e que é esta casa, sendo ela e outra ao mesmo tempo, pois está tudo diferente, diria mesmo o oposto. A casa é voltada para dentro e para baixo, com janelas precárias para a rua, e está caótica, cheia de móveis e coisas estragadas e abandonadas, que não me servirão. Não há portaria, o que me faz pensar nas dificuldades com o correio, os livros e o mais que compro pela internet. Há mato nas imediações, bem próximo, e penso então na possibilidade de ter de conviver com baratas. Foi este o gancho entre o curta e o sonho: lá o animal alimentando a fantasia, aqui o medo e a reticência. Meu pai está aparentemente no comando da situação, e apesar de todos os poréns, minha inclinação é pela aceitação da casa, encontrando, por exemplo, o quarto em que vou dormir. Tudo é desordem, móveis velhos caindo aos pedaços em estado de abandono, e eu aceitando esse estado de coisas. Talvez haja muitas casas nesta casa limpa e organizada em que estou vivendo, a maior de todas a casa de minha infância, onde convivi com baratas e atualmente vive meu pai. Isso explica os panos velhos da memória.

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