Há uma estrada antiga que resquícios esquecidos do eu reconhecem. A estrada confunde-se com esse lado adormecido do eu ― desperto em sonho ―, dá-lhe contorno. Uma estrada antiga, da infância, nunca esquecida. Coisas, recentes, sem nexo aparente, confluindo para a estrada, num lampejo reconhecida, ainda que envolta em camadas de sonho. As coisas desconexas? Um corte indesejado de cabelo, lembrando outros cortes, tesouradas dadas por força de se proteger. Mais o quê? Estranha vizinhança, e a estrada antiga onde o eu, portando a tesoura, reconhece um corte com a infância. “Que culpa temos nós dessa planta da infância, / de sua sedução, de seu viço e constância?” (Jorge de Lima, Invenção de Orfeu).
Nenhum comentário:
Postar um comentário