Indo até a altíssima águia ou sondando as camadas profundamente tranquilas de um rio, a poesia parece querer colocar sob suspensão (e suspeição) as camadas imediatamente aderentes deste mundo. O que faz com que confiemos nela. Se o rio reflete as nuvens, ambos no entanto são feitos da mesma água, como quer Manuel Bandeira. Mas tão diferentes. De um extremo a outro que a poesia sonda, a matéria parece ser a mesma ― mas há uma mudança de substância. O que fazer com o dado imediato brutal do mundo, que a própria linguagem parece querer enxotar? Hoje pensei assim: o mundo de Kafka não admite a poesia ― e espero não estar dizendo nenhuma heresia.
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