É
bastante conhecido o conto “A terceira margem do rio”, de Guimarães Rosa,
talvez a nossa narrativa por excelência de certo
lugar/discurso do deslocamento. Estava na rodoviária, numa rodoviária.
Bastidores intensos vislumbrados no relance de estar ali, de passagem. Então de
repente se vive algo que sobra, que não cabe naquele espaço exíguo de suspensão
da cidade, fazendo transbordar a vida que exige não ficar circunscrita àqueles
limites. Esse algo não consegue caber na narrativa que se quer para si. Esse
algo mal se acomoda na linguagem que serena sentidos. É preciso traduzir,
encontrar as palavras que contornem a dimensão do pasmo, do espanto, do
anticlímax que derruba com violência a árvore que um dia se plantou. Onde elas,
as palavras que repusessem a vida em sua marcha reconhecível? Então, devagar,
alguma coisa como ficar com a herança da vida foi se insinuando. E, talvez por estar numa rodoviária, socorreu-me a
formidável imagem das bagagens da vida, de Guimarães Rosa: “Eu fiquei, de
resto. (...) Eu permaneci, com as bagagens da vida.”
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