Vou ao dicionário
saber mais sobre os saguis (agora sem trema) antes de começar, para não correr
o risco de falar do primata errado. Descubro-os,
entre outras coisas, pertencentes à família dos calitriquídeos: pequenos primatas, florestais, da família
dos calitriquídeos, com cerca de 20 espécies, encontradas nas Américas Central
e do Sul; com até 37 cm de comprimento do corpo, cauda longa e não preênsil,
pelagem macia e densa, de colorido variável, unhas em forma de garra e polegar
não oponível; vivem em pequenos grupos e se alimentam principalmente de insetos
e frutas. Então, são mesmo saguis os pequenos
primatas que ouço e vejo (mais ouço que vejo) todo dia nas imediações de onde
moro. Pequenos, delicados, reúnem-se nas árvores do outro lado da rua. Já me
acostumei a ouvi-los, principalmente pela manhã. A memória imediata despertada
foi o sítio de minha irmã em Domingos Martins. É como se pudesse ter um torrão
de lá aqui, no andar alto de um prédio localizado em via bastante movimentada.
E foi talvez pela súbita familiaridade com os saguis, com sua companhia
benfazeja, que a notícia da morte por envenenamento de seis macacos no bairro Jardim Botânico, zona sul do Rio de Janeiro, ancorou mais que outras
notícias, afinal sequer moro no bairro. Mas moro na mesma cidade, e se
já havia lido outras vezes a crônica “Macacos” de Clarice Lispector, agora a cidade
enveredou-se ao texto: “Meus sentimentos desviavam o olhar. A inconsciência
feliz e imunda do macacão-pequeno tornava-me responsável pelo seu destino, já
que ele próprio não aceitava culpas. Uma amiga entendeu de que amargura era feita
a minha aceitação, de que crimes se alimentava meu ar sonhador, e rudemente me
salvou: meninos do morro apareceram numa zoada feliz, levaram o homem que ria,
e no desvitalizado Ano Novo eu pelo menos ganhei uma casa sem macaco.” (Os melhores contos de Clarice Lispector.
3.ed. São Paulo: Global, 2001, p.99).
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