Tenho
uma amiga que tem o dom da palavra, o que é menos comum do que se imagina. A
cada vez que a encontro consigo saber um pouco mais de mim, o que é outro modo
de dizer que consigo saber mais do mundo. E não posso deixar de considerar um
achado, um privilégio, ter conseguido construir uma amizade assim. Da última vez em
que estivemos juntas, conversávamos sobre o ritual dos aniversários, porque eu
completava anos naquele dia, e havia decidido fazer diferente. Atenta a um
movimento subjetivo que não é recente, a data ― que é uma passagem, a cada ano diferente ― foi perdendo para mim a
necessidade de estar em cena, na cena dos outros, para melhor exprimir. Foi deixando
de ser encenação de um “eu” que... ― tudo isso é muito complicado de dizer, e
há sempre o perigo de as palavras não alcançarem aquele ponto delicado em que
as coisas fazem enorme sentido para nós mesmos. E por isso pude perceber a
força expressiva do que minha amiga disse, me compreendendo mais do que eu
mesma: a gente já passou dessa fase mais frágil da existência.
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