Na
crônica de Luis Fernando Verissimo publicada pelo O Globo no último domingo, “Deus hipotético”, além da coragem e
humor habituais, chama atenção o trecho: “Há aquela parábola do Dostoievski sobre o
encontro do Grande Inquisidor com Jesus Cristo, que volta à Terra ― o filho da
hipótese tornado homem ― para salvar a humanidade outra vez, já que da primeira
vez não deu certo. Os dois conversam na cela onde Cristo foi metido por estar
perturbando a ordem pública, e o Grande Inquisidor não demora a perceber que a
pregação do homem ameaçará, antes de mais nada, a própria Igreja, a religião
institucionalizada e os privilégios do poder.” Uma ideia perversa e atravessou o pensamento: se a ficção não seria também de um cristianismo genuíno, ou
seja, era uma vez um homem, dito filho de Deus, que tentou pregar a justiça
social, mas isso não deu muito certo, e este homem acabou morto, e então é até
possível lutar contra um mundo socialmente injusto, mas trata-se de uma luta
vã... Verissimo não citou Dostoievski em vão.
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