sábado, 23 de fevereiro de 2013

garrafas ao mar: a víbora manda lembranças

Enquanto assistia ao documentário sobre Joel Silveira, lembrei-me de uma crônica dele lida já faz tempo ― e a memória, seletiva, guardou resquícios desta e mais duas ou três ― em que ele relatava estar andando sozinho num frio dezembro europeu (não me recordo a cidade, e talvez seja só minha a impressão de que era Natal) e deparou-se, de repente, num vitrine de livraria, com um livro da Clarice Lispector ― creio que Perto do coração selvagem, se a memória estiver me ajudando ―, e então ele sentiu seu coração subitamente aquecido, por aquele encontro, por encontrar alguém familiar na fria distância em que se encontrava, por encontrar uma garrafa lançada ao mar. Escrever é imperioso ― este é o maior testemunho que ficou da brilhante geração modernista de cronistas e repórteres brasileiros, porque a literatura era uma espécie de morada, parada obrigatória deles e delas.

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