Enquanto assistia ao documentário sobre Joel Silveira, lembrei-me de uma
crônica dele lida já faz tempo ― e a memória, seletiva, guardou resquícios desta
e mais duas ou três ― em que ele relatava estar andando sozinho num frio
dezembro europeu (não me recordo a cidade, e talvez seja só minha a impressão
de que era Natal) e deparou-se, de repente, num vitrine de livraria, com um
livro da Clarice Lispector ― creio que Perto
do coração selvagem, se a memória estiver me ajudando ―, e então ele sentiu
seu coração subitamente aquecido, por aquele encontro, por encontrar alguém familiar
na fria distância em que se encontrava, por encontrar uma garrafa lançada ao
mar. Escrever é imperioso ― este é o maior testemunho que ficou da brilhante
geração modernista de cronistas e repórteres brasileiros, porque a literatura era
uma espécie de morada, parada obrigatória deles e delas.
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