terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

o livro de horas

Amo as horas sombrias de meu ser,
nas quais se me aprofundam os sentidos:
nelas eu tenho achado, como em velhas cartas,
meu dia a dia já vivido, e feito
alguma lenda distante e sofrida.
Delas me vem a noção de que tenho
lugar numa outra vida mais ampla e infinita.

E eu às vezes me sinto feito a árvore
que, sobre um túmulo, madura e ciciante,
preenche o sonho de algum morto jovem
(a cuja volta ela aperta as raízes mornas)
perdido entre amarguras e cantigas.

RILKE, Rainer Maria. O livro de horas. Trad. Geir Campos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1993, p.19.

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