Como pedestre contumaz, convivo com as infrações
cometidas pelos motoristas, de variada espécie, a mais comum sendo o avanço do
sinal vermelho, limitando ainda mais o tempo de travessia do pedestre. A rua é
deles, dos carros e seus proprietários, os pedestres que se virem. Pois eu,
além de me virar, tenho para essas situações alguns palavrões engatilhados, que
pronuncio antes para dentro, mas que saem como resposta reflexa ao desrespeito. "Corno", por exemplo, eu sempre falo. Não vai mudar nada, mas também, se eu for
atropelada, por exemplo, a única coisa que vai mudar é que vou deixar de
existir ― morrer ―, porque a impunidade grassa como os cornos neste país. Nada
vai mudar. Mas eu, dizendo meu xingamento, ainda que para dentro, fico mais
forte, e adio minha morte.
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