sexta-feira, 1 de março de 2013

Fernando Pessoa

Não digas nada a quem te disse tudo —
Tudo, esse tudo que se nunca diz…
Essas palavras feitas do veludo
A que se não sabe o matiz.

Não digas nada a quem te deu a alma…
Que a alma não se dá. O confessar
É feito só para se obter a calma
De nos ouvirmos a falar.

Tudo é inútil e também mentira.
É um pião que um garoto na estrada
Deita só para ver como ele gira.
E ele gira. Não digas nada.

Fernando Pessoa. Poesia 1931-1935. São Paulo, Companhia das Letras, 2009, p.380.

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