domingo, 14 de julho de 2013

a descoberta da vida

Lia (o verbo reler, no caso de Clarice, não se aplica), antes de dormir, a crônica “A descoberta do mundo”, inserta em uma coletânea do gênero, quando, ao chegar neste trecho, voltei e voltei mais uma vez: “Ou será que eu adivinhava mas turvava minha possibilidade de lucidez para poder, sem me escandalizar comigo mesmo, continuar em inocência a me enfeitar para os meninos? (...) Seria minha ignorância um modo sonso e inconsciente de me manter ingênua para poder continuar, sem culpa, a pensar nos meninos?” Foi então que, um pouco nebulosamente, foi-se me revelando um dado, talvez o que faltava, de um enigma de minha história pessoal — não digo “o enigma” porque seria subestimar a vida. Eu entendi, eu encontrei a peça que faltava, não de maneira clara e lógica e cristalina, mas como essas coisas conseguem se dar ao nosso entendimento. E então jorraram imagens durante a noite, que confirmaram minha cegueira. Talvez então isso que Clarice disse possa ter algum sentido para mim: “Porque eu sempre soube de coisas que nem eu mesma sei que sei.” Clarice Lispector é única. E eu não sei se alguma coisa está melhor hoje pelo fato dessas coisas se terem dado, mas entender junto com Clarice Lispector é conhecer sem se brutalizar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário