Sem desejar incorrer em qualquer heresia ao falar de
dois filmes aclamados pela crítica, pertencentes a convenções estéticas distintas,
o fato é que a casualidade levou-me a vê-los praticamente em sequência, no
mesmo dia. O primeiro eu assisti no Canal Arte 1, ao zapear o controle ao acaso
na manhã do último domingo. Trata-se de A Fita Branca (2009), filme de Michael Haneke tão perturbador quanto
enigmático, deixando para o espectador uma série de dúvidas sombrias referentes
à maldade, à perversidade e à crueldade humanas. Independente do contexto da
Primeira Guerra Mundial que se aproxima, a ideia é que todo mal nasce no homem
e em suas estranhas formas de vida em comunidade. Ao final do filme, a notícia do
atentado em Saravejo soa menos impactante que tudo o que o espectador acabou de
presenciar, sem deixar de projetar em si as tais sombras. O segundo filme,
desta vez escolhido, foi Hiroshima, mon amour (1959), filme de Alain Resnais que tenta elaborar a angústia
existencial que se projetou sobre a geração que sobreviveu à Segunda Guerra
Mundial. Naturalmente é-me muito mais complicado falar deste filme, pela
própria opção estética e sua filiação à nouvelle
vague. Também não sou boa leitora de Marguerite Duras, roteirista do
filme. Mas percebi que havia visto, em sequência no mesmo dia, dois filmes
em que um elemento agregador meu, muito próprio, se inseriu, além de uma
ligação um tanto mais óbvia: Emmanuelle Riva, a belíssima protagonista de Hiroshima, mon amour, foi dirigida
recentemente por Michael Haneke no premiado Amour
(2012) — a que ainda não assisti. O elemento agregador é um tanto imponderável,
a guerra e suas sombras, o antes e o depois, as possibilidades da arte para
falar do que não tem conserto nem nunca terá.

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