"A Novela das 8" é um bom filme
ruim, como aliás muitos que se fazem por aqui.
Mas não é péssimo, horroroso ou
impossível de ser assistido (sem constatar o tempo todo a pobreza dos
recursos). A ideia é boa — simplesmente o resto é falho, fraco: elenco,
direção, roteiro... A ideia, se tivesse sido bem aproveitada, executada, mostraria
o dilema fundamental deste país, desde a Colônia: a distância entre o universo
da fantasia, na falta de termo melhor, e a realidade — ou, conforme frase lida
em ensaio de Roberto Schwarz, saber a
diferença entre compensações imaginárias e realidade, não importa o quanto este conceito em si seja
espinhoso. O que catalisa a distância entre essas duas instâncias no filme é a
boate carioca que inspirou a novela brasileira talvez mais famosa da década de
70: Dancin’ Days. Da novela à boate, as duas “heroínas” atravessam percursos
distintos que se tangenciam. Para quem participou do imaginário da novela, o
filme vale como uma pálida sessão nostalgia, somente no plano imaginário,
obviamente, porque a realidade era dura, minada pela ditadura, e não deixou saudades.
Recentemente, em sala de aula, ao comentar o caráter hiperbólico das imagens
dos poemas de Castro Alves que clamavam contra os horrores da escravidão no
Brasil, voltei-me para uma aluna e disse que nenhuma hipérbole é suficiente
para o sofrimento. Ela argumentou que, embora pudesse ser assim, as hipérboles
cumpriam seu papel no poema, não traíam o que nele se queria expressar.
Voltando ao filme, não há hipérboles ou outros recursos mais expressivos. Há
uma tentativa de realidade, a partir da costura de recortes mal enquadrados.
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