sábado, 7 de setembro de 2013

deserção suave

Generalizar sobre o ser humano, elaborando abstrações, não me interessa ou diz respeito. Precisei de uma semana para apreender a inversão dos parâmetros contemporâneos que se opera em “A Pele que Habito”, um Almodóvar trágico. De mim sei o que posso saber hoje, e o que posso saber a cada instância da linha descontínua da existência parece sofrer das irregularidades do terreno. O que posso saber de mim hoje mostra (a mim) alguém diferente de quem já me supus ou acreditei em outras paragens, ainda que aparentemente sob a mesma pele. O que mais me espanta é como algumas pessoas — e aqui traio a intenção de não generalização — conseguem estar sempre iguais, operação que parece demandar um esforço admirável de acomodação. Vejo a pele que habito envelhecendo aos poucos, enquanto o ser que espreita sob ela... é... é o que o cotidiano permite, o que as energias de hoje permitem. Eu preciso agradecer aos amigos, os poucos que o abraço de hoje consegue abrigar, por não desistirem de mim, apesar do (tão) pouco que tenho conseguido fazer ou oferecer. E preciso também reconhecer que tenho me obrigado a estar mais presente. Nenhum clichê de amizade, apenas uma deserção suave dos lugares comuns.

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