No ano em que protestos e manifestações — deflagrados
por reivindicações por melhorias nos transportes públicos — sacudiram o país, mudando
a imagem que o poder tinha dos brasileiros, o governo propõe como tema supostamente
relevante para discussão entre jovens que estão terminando o ensino médio a
chamada lei seca. Nas ruas, nas manifestações, os jovens propuseram várias
pautas de discussão e negociação, levantaram debates até então engavetados e
considerados pouco importantes pelo poder. Debates que ninguém imaginaria viessem à tona. Na redação do Enem, todavia, os jovens, os mesmos das manifestações,
foram convidados a falar de um tema fora de foco, digamos assim. Não é que a lei seca não seja importante. Como outras leis, merece toda a atenção da sociedade. Mas ela já foi debatida e implementada, não é mais a bola da vez. Sabe-se, ademais, que as redes sociais são usadas para evitar flagrantes do bafômetro. Em adição, está pressuposto no tema, ao
contrário das reivindicações por melhorias nos transportes públicos, que esses
jovens serão futuros proprietários de automóveis, e que deverão beber com
moderação, evitando fazê-lo quando forem dirigir seus carros. Perfeito. Mas trata-se de um horizonte
burguês, portanto prevendo um jovem enquadrado em um lugar social e profissional,
dobrado às imposições (ou necessidade, talvez) de ter um automóvel e usá-lo de
forma responsável. Mais um pouco e o Enem se transforma em um manual de
instruções para a vida adulta regrada. Por esse prisma, não é de espantar que, no exame de 2012, um candidato tenha inserido uma receita de macarrão instantâneo no texto. E o protagonismo
juvenil? E a luta por educação, saúde e serviços públicos de qualidade? E as tantas outras leis importantes, que vêm passando ao largo do debate social?
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