Sonhos... o que fazer deles? Não os sonhos de
outrora, metamorfoseados em “hoje”, mas os originais, que comparecem noite após
noite trazendo ecos de um mundo pouco habitável. A sustentabilidade dos sonhos —
quase um clichê —, fantasmas noturnos dos quais restam borboletas, não por
comportarem beleza, mas pelo efeito da imagem saltitante e fugidia no terreno
da memória. De intrincados enredos emergem lepidópteros fugidios, que aos
poucos se dispersam com as primeiras luzes do dia. Camadas e camadas de
inconsciente removidas enquanto se dorme. Por que sonhamos? Uma explicação
biológica dirá que são um traço evolutivo, uma espécie de compensação noturna
para as tensões diurnas, uma forma do organismo colocar-se em equilíbrio. Mas
se permanecem com o dia, estão pedindo algo do corpo que lhes serviu de palco,
ainda que seja essa parca escrita, circular e evasiva, forma de continuarem
batendo asas para além do efêmero do imago.
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