sábado, 20 de abril de 2013

Cecília Meireles

Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Ai, palavras, ai, palavras,
sois de vento, ides no vento,
no vento que não retorna,
e, em tão rápida existência,
tudo se forma e transforma!

Sois de vento, ides no vento,
e quedais, com sorte nova!

Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Todo o sentido da vida
principia à vossa porta;
o mel do amor cristaliza
seu perfume em vossa rosa;
sois o sonho e sois a audácia,
calúnia, fúria, derrota...

A liberdade das almas,
ai! com letras se elabora...
E dos venenos humanos
sois a mais fina retorta:
frágil, frágil como o vidro
e mais que o aço poderosa!
Reis, impérios, povos, tempos,
pelo vosso impulso rodam...

Cecília Meireles. Romanceiro da Inconfidência. 9.ed. São Paulo: Global, 2012, p.150. Excerto do Romance LIII ou Das palavras aéreas.

domingo, 14 de abril de 2013

interrogação

Concebi este espaço como catarse de questões, em última instância, subjetivas; ou seja: fossem sociais, políticas ou de outra natureza, elas diriam respeito a mim, ao modo com que percebo e me coloco no mundo, supondo inclusive a possibilidade de transformação subjetiva.  Má catarse talvez. Agora percebo-me refreando angústias, censurando sombras e medos, o que não equaciono como uma boa transformação. Se não conseguir mais falar do que me diz respeito, não sei se haverá caminhos para continuar.