O mar me traz o que alcanço experimentar como paz. Pisar
na areia é adentrar um território em que se desfruta de rara liberdade,
inclusive sem perceber. Talvez seja disso, da sensação de liberdade, que venha
a paz. Havia hoje uma espécie de bailado de pipas, de um esporte chamado
kitesurfe. De repente percebi como estar nesse outro território é também
quebrar a cadeia da percepção racional, para que outras coisas sejam vistas,
sentidas. Foi assim que vi o bailado. Vi um homem que parecia estar andando em
círculos. Mas não me detive nas pessoas. A liberdade que o mar oferece cria uma
espécie de indiferença sagrada entre os que estão ali, como se todos fossem
cultores de um deus que se confunde com o próprio altar, e que em vez de
receber traz a oferenda, é essa própria oferenda. O pôr do sol foi
deslumbrante, trazendo aos poucos tons maravilhosos para o céu e a água. E foi
enquanto caminhava na beira do mar, ao pôr do sol, que vi duas meninas
brincando de fugir das ondas que avançavam, aquele movimento de brincar com as
margens ondeantes. Ali estava a liberdade, na fluidez imprecisa do mar, fazendo
o corpo experimentar, sem perceber, uma fronteira inofensiva.
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