domingo, 12 de janeiro de 2014

tufos de linguagem

“Perguntou o que eu pensava daquilo. Não era fácil encontrar as palavras, era tarde, o cansaço pesava, teria preferido ir dormir, olhava as luzes do golfo, soprava uma leve brisa carregada de umidade [...], era custoso continuar, principalmente numa língua estrangeira para ambos. De vez em quando ele fazia uma pausa para procurar a palavra certa e nesses vazios minha atenção se perdia ainda mais, um país sob vigilância, esperava que o entendesse, claro que entendia, entendia perfeitamente, por mais que para entender melhor as coisas seja necessário tê-las tocado com a mão, mas sabia muito bem que naqueles anos o seu era um país sob vigilância, iria além, um país policialesco, melhor dizendo.”

Antonio Tabucchi, “Festival” (O tempo envelhece depressa. Cosac Naify, 2010, p.117, trad. Nilson Moulin).

Nenhum comentário:

Postar um comentário